Road Trip pelo Rajastão
Índia foi um dos destinos que… tive sempre um bocado de “Respeito”, coloquei sempre outros destinos como prioridade, por questões de oportunidade, preço ou por minha pimpolha ser muito pequena. Bom, na verdade, coloquei sempre em questão se estaria preparada.
Mas este ano é que foi, a nossa pimpolha está mais velha e lá fomos.
A nossa viagem foi de 21 dias, claro que não foi o suficiente para conhecer a Índia… assim tivemos que fazer escolhas muito específicas, o nosso percurso passou por Deli, Varanassi, Rajastão e Goa.
Sendo o Rajastão o maior estado da Índia, como imaginam foi mesmo muito difícil construir um Roteiro porque tivemos que deixar para trás algumas cidades que queríamos muito ir, mas foi o percurso possível.
Ao início comecei a fazer o percurso, como habitual, de transportes públicos (autocarro e comboio), depois fazendo as contas às horas perdidas cheguei à conclusão que era impossível explorar o máximo em 8 dias, pois na Índia os transportes públicos costumam atrasar-se bastante.
Alugar carro foi outra hipótese que coloquei, mas depois de muita investigação percebi que mesmo depois feito do estágio de conduzir em Bali, ainda não estávamos preparados, deixamos o aluguer para os dias que fomos a Goa.
Só nos restavam as excursões (que se puder fujo a 7 pés… e os preços estavam caríssimos), ou contratar um motorista.
Claro que fiz eu o percurso, assim ficou personalizado e contratei o motorista.
Este processo de contratar motorista não foi assim tão fácil.
A maior parte dos contactos que se encontram na ‘internet’ são de agências de viagens, portanto muito caros (fora de questão), depois tínhamos a dificuldade acrescida de sermos 5 pessoas mais o motorista, assim o carro tinha que ser de 7 lugares.
Outro problema adicional foi o facto de muitos indianos ainda não estarem atualizados com as tecnologias de informação, não terem páginas e não responderem a emails.
Mas depois de uma grande luta, lá conseguimos, encontrei o motorista!!!! Preço adequado, responde aos emails, mandei-lhe o meu percurso e ele até me apoiou no ajustamento do programa.
O nosso percurso no Rajastão, foi este:
Jaipur – 2 noites
Bundi – 1 noite
Udaipur – 2 noites
Jodpur – 2 noites
Pushkar – 1 noite
Agra – 1 noite
Cidades |
Klm percorridos |
Duração da viagem |
Jaipur – Bundi | 219 Km | 4 horas |
Bundi – Udaipur | 265 Km | 6 horas |
Udaipur – Jodpur | 251 Km | 6 horas |
Jodpur – Puskar | 189 Km | 5 horas |
Puskar – Agra | 386 Km | 8 horas |
Agra – Deli | 212 Km | 4 horas |
Foi realmente bem puxadote, o que vale é que o carro era mesmo muito confortável.
Coloquei aqui o tempo de viagem para poderem calcular de uma forma mais fidedigna, uma vez que as estradas na Índia serem um pouco diferentes… bom… eles conduzem na mão contrária e muito devagar, por exemplo, nas autoestradas a 80km/h, portanto imaginem a eternidade que leva.
Isto explica-se pelo facto de nas autoestradas andarem alegremente a passear vacas. Tenham sempre que precisam de uma maior margem. O Raj (nosso motorista) conduzia lindamente e de forma segura.
Apesar de ser a minha primeira experiência com um motorista, fiquei muito contente com esta opção, por vários motivos:
— Foi muito interessante ir vendo a alteração das paisagens, mesmo dentro do mesmo estado;
— Consegui visitar muitas mais cidades;
— O preço foi justo;
— O motorista era local e conhecia muito bem a região, o que nos permitiu conhecer restaurantes e locais mais tradicionais;
— Durante a viagem fomos conversando sobre as diferenças entre os nossos países, tais como a cultura, religião, educação, tradições. Aprendemos muito, mesmo!
— Se necessitássemos de parar ou de alguma coisa específica (como ir à farmácia), ele foi incansável na procura (até nos conseguiu desconto na Farmácia).
Vou deixar-vos o contacto do motorista
https://www.rajasthanleafes.com
Telefone: +91 9799141704
E-mail: rajleafesindia@gmail.com
O Rajastão é o estado mais conservador da India, ainda com as tradições muito presentes, é lá que conseguimos vivenciar um pouco da Índia das cores, dos sáris, dos cheiros e da História (monumentos e palácio lindíssimos).
Este estado ficou-me bem marcado no coração, se tivéssemos tido tempo seria muito interessante termos ido a Jaisalmer e ter pernoitado no Deserto, mas não dá para tudo, fica para uma próxima visita.
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Memórias e curiosidades de uma viagem à Índia
Ir à Índia, como em qualquer outra viagem, pode ter variados objectivos. Nesta, da qual vos dar alguns apontamentos, queria conhecer o triângulo Delhi, Jaipur e Agra e regressar a Goa — onde já tinha estado, via Mombay — sem esquecer a gastronomia local e a bela cerveja “Kingfisher”.
Há alguns anos que dispensei os serviços das agências de viagem, mas admito que sejam úteis a viajantes menos experientes. Por isso, tal como em tantas outras, os bilhetes e a hospedagem foram tratados “online”.
Como o meu voo só chegava a Delhi cerca da meia-noite, reservei quarto num hotel, que me garantia (oferta) o “transfer” desde o aeroporto, onde acabei por ficar duas noites que me permitiram visitar, utilizando uma viatura com condutor, muitos locais interessantes da cidade, entre hindús e muçulmanos. Estes últimos não apreciam muito estranhos nos seus locais. Vê-se pela cara.
O mesmo motorista conduziu-me, então pelo percurso Jaipur — Agra, levando-me para os locais previamente escolhidos por mim, palácios, templos e elefantes — para avivar memórias africanas — dispensando macacos e cobras.
É uma viagem que vale a pena, recomendando-se que seja organizada de forma que se visite o Taj Mahal à tarde e, na manhã seguinte voltar a visitar, antes da partida para o regresso a Delhi, para se poder verificar a diferença de cores dos mármores do monumento ao longo do dia. Este passeio pode ser prolongado por cidades circundantes, que me dizem ter também interesse, se houver tempo ou não houver interesse em visitar Goa, que ainda fica a umas horas de voo doméstico.
DELHI – Tirando as ruelas e vielas sórdidas que fazem escoar o trânsito, em Delhi as ruas e avenidas tem 2, 3, 4 faixas em cada direcção – mais umas ruas laterais com uma faixa em cada direcção. Para acolher parte dos 26 milhões que vai para a rua, por sua conta e risco. Criaram ainda mais 2 ou 3 vagas paralelas às faixas enunciadas, conduzindo-se com buzinadelas que avisam que, ultrapassada por meia roda, determinada viatura tem de dar passagem à quem vem de outra faixa. O condutor do transfer que me levou do aeroporto ao hotel explicou-me, torcendo o torso para a traseira e largando o volante para sublinhar a sua opinião com gestos largos, que a culpa daquele caos era dos taxistas em geral e dos condutores civis em particular, que se metiam no trânsito sem respeitar o trabalho dos transferistas de hotel, os únicos que cuidavam do bem-estar dos seus queridos passageiros, de quem dependiam para viver. Ai se só houvesse transferistas nas ruas de Delhi! Se calhar, nem era preciso apitar. Enfim, respeitáveis opiniões…
https://www.facebook.com/100017896951776/videos/196117514328146/
POLUIÇÃO – Um centro de medição de gases poluentes. Quem diria que a poluição era uma preocupação em Delhi!
BUZINADELAS — 90% dos camiões que circulam por estradas da Índia são decorados à mão e nas traseiras exibem a frase “Blow Horn” (buzinem). Haverá por aqui algum condutor que necessite de tal incitamento?
DEUSES – Os hindus têm diversos deuses, sobre os quais me vou pronunciar noutros posts. Começo pelas vacas sagradas que podem circular pelas propriedades privadas e públicas, como estradas, por exemplo. Contaram-me que, na Índia, ninguém come carne de vaca. Ninguém, é como quem diz: em aldeias rurais distantes, com maiorias cristãs, pagando à polícia, há quem coma carne de vaca. Consternado com a história garanti ao meu interlocutor que eu, na Índia, jamais seria capaz de comer carne de vaca.
MATADORES DE MOSCAS – Nos aeroportos indianos, há a preocupação com as moscas que transportam e transmitem doenças. Equipados com raquetas electrificadas percorrem as salas de espera dos voos dando cabo das moscas todas. A missão é tão séria, que os matadores são acompanhados por observadores que lhes indicam as posições das moscas e com quem discutem as estratégias para as apanhar.
PEREGRINACÂO – Em Domingo de Páscoa, quero testemunhar que os hindus são extremamente religiosos. Há pequenos altares em quase todos os lares e templos nas ruas não muito distantes uns dos outros. Em comum com os católicos, os hindus também fazem peregrinações. Na imagem, um grupo que se dirigia, a pé, para um festival a 200 quilómetros de distância.
FORNOS CONSTRUÍDOS COM DEJECTOS DE BÚFALO – Na Índia, os búfalos não são sagrados e contribuem para a economia de diversas comunidades fornecendo-lhes a sua força na agricultura, nos transportes, bem como o seu leite, importante na nutrição dos locais, além de os seus dejectos servirem para construir fornos comunitários e também como combustível para os mesmos, em forma de placas redondas – também feitas carinhosamente à mão – que o fogo carboniza e permite cozinhados em panelões de ferro. Ao longo das estradas, junto aos ajuntamentos populacionais, vemos fornos e placas à venda. Não provei nenhuma refeição assim cozinhada, mas também não tenho razões para duvidar dos locais, que asseguram que o sabor da comida depende da “mão” de quem cozinha e não do fogão ou do combustível utlizado.
COMÉRCIO – Na Índia vive-se muito do comércio. O preço de tudo é negociável, mesmo face a cartazes anunciando “preço fixo”, que devem ser para inglês ver. Geralmente, os indianos são muito comunicativos e prestáveis, embora com esta última qualidade pretendam sempre ganhar qualquer coisa. Tem de ser assim, que a concorrência é enorme. Comprei tecidos às 16 horas, sob o compromisso de a roupa pronta a vestir ser entregue no bar do hotel até às 23 horas. Claro que no Ocidente isto seria impensável, mas aqui os filhos cuidam dos pais sem reforma e, por isso, tem de trabalhar muito até porque na sua maioria, mesmo sujeitos a outrem, não tem salário, vivendo das gorjetas. Na foto, uma comerciante do mercado de Mapusa, que me foi “pescar” a dois quarteirões da sua loja, me ajudou a negociar compras em duas lojas, antes de me vender dois lenços na sua própria tenda.
CAOS ORGANIZADO – Desde o momento que desembarquei em Nova Delhi, que ganhei consciência de que estava perante o caos organizado e, ao longo desta dúzia de dias que aqui estou, fui convencendo-me de que a primeira impressão estava correcta, além de que não haveria outra forma de encaixar neste território mais de mil milhões de pessoas. Mesmo assim, aplico-me para perceber uma jovem viúva, quando me diz que calcula que tem 38 anos, porque não foi registada nem tem documentos e, por isso, também não tem os três filhos registados, até porque a sua preocupação principal é ganhar em 5 meses de verão o suficiente para viver 12. Fico espantado ao ouvir que um motorista é afastado da sua profissão aos 58 anos, para ir viver por conta dos filhos, já que não tem direito a reforma. Cai-me o queixo ao saber que no país com o sistema educativo mais avançado do mundo no ensino das ciências em geral e da matemática em particular, há uma enorme percentagem de analfabetos, apesar de apreciar diariamente meninos e meninas de imaculadas fardas no percurso entre casa e escola.
GOA – Cada vez mais indianos de outras partes do país estão a vir para Goa. Começaram por ser atraídos pelos casinos aqui instalados, pelo exotismo da influência portuguesa e pelas praias maravilhosas e acabaram por optar pela vida no território em pleno. Trouxeram algumas actividades interessantes e com mais-valias para a zona.
Mesmo assim, Goa continua a ser um destino muito interessante, com zonas que recordam Portugal, as suas igrejas e, sobretudo, as suas praias com areias brancas e água com temperaturas elevadas, em período que se anda bastante agasalhado em Portugal.
TRANSPORTES PÙBLICOS – Nos autocarros que circulam na Índia, o cobrador exerce multifunções. Do exterior, com umas apitadelas, dirige as manobras em terminais ou em curvas da estrada mais apertadas, manda prosseguir a marcha e anuncia a partida. Em conjunto com o motorista, anuncia/grita o destino da viatura, bem como enumera as paragens, no caso de não se tratar de um autocarro expresso. No interior, também apita, quando é preciso parar ou arrancar. Cobra, como é devido a um cobrador, mas não emite bilhetes. Não precisa. A média de passageiros está calculada por viagem, há sempre o cuidado de “ensardinhar” mais uns quantos e sempre se poupa em papel e tempo, ambos preciosos à humanidade. De qualquer forma, o patrão não fica mais pobre, nem o cobrador mais rico.
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EXPERÊNCIA – Mr. Ejhar, é o nome do motorista que calhou em sorte para os cinco dias de viagem no triângulo Delhi – Jaipur – Agra. Também é preciso sorte nestas coisas das aventuras em terras estranhas. Este homem contribuiu para que a viagem fosse um prazer, pois nunca fez uma travagem mais violenta, conhece as estradas, os monumentos e as pessoas de cada região e é de uma simpatia cativante. Tenho a certeza que também causei impressão ao Mr. Ejhar, motivando -o a dar estudos às filhas – ele que já tem um filho engenheiro. Vou dar o contacto dele à família mas, se os amigos quiserem, podem e devem aproveitar porque, sem intermediários, Mr. Ejhar arranja hotéis, restaurantes, lojas e viagens para aquelas localidades indianas e outras circundantes, a melhores preços dos que os fornecidos por operadores de tours e até mesmo do que os encontrados na net, com a mesma qualidade.
ÉPOCA – Mais curta ou mais comprida, a viagem à India, Goa incluída, pode ter preços variados, desde logo, pelo período em que se viaja, época baixa ou alta. Recomendo Março e primeira quinzena de Abril, altura em que está a acabar a “season”, pelo que há menos turistas, os preços são mais baixos e – não de somenos importância – as temperaturas baixam dos 35 graus.
Espero que os leitores fiquem motivados para esta viagem repleta de cheiros e sabores.
Autor: Nelson Santos Silva (Jornalista)
- Published in Convidados, Índia