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Gosto do nome deste Blog. Palmilhar, percorrer, trilhar. O que é a nossa vida senão isto? É, segundo Santo Agostinho que aqui cito, avançar, é experienciar, é viver.
“Não vês que somos viajantes?
E tu me perguntas:
Que é viajar?
Eu respondo com uma palavra: é avançar!” (Santo Agostinho)
Meditando nesta viagem que tem sido a minha vida, a minha memória está a ser invadida pelo meu palmilhar na minha terra natal, a minha terra do coração – Moçambique. As primeiras memórias levam-me a enormes plantações de algodão, quase a perder de vista no horizonte, da companhia de algodões onde o meu pai era encarregado em Mecanhelas, no norte na província do Niassa. No tempo da colheita, eu e o meu irmão, pequenitos de cinco ou seis anos, embrenhávamo-nos naquela vastidão branca a colher o algodão e com um cestinho levávamos para venda nos enormes armazéns. Lembro as enormes balanças e as paredes altíssimas do armazém cobertas com os sacos carregados de algodão.
Continuando a palmilhar pela minha memória, tenho bem presente, numa saudade que dói fundo, as minhas viagens acompanhando fielmente o meu pai pelo mato fora numa carrinha de caixa aberta. Um dia, junto a um rio onde haviamos parado para refrescar, somos surpreendidos por um búfalo em nossa direção. É evidente que a correria para dentro da viatura foi fantástica. Mas eu estava protegida no colo do meu pai, pelo que não me lembro de ter sentido qualquer tipo de medo, apesar das fortes investidas que o bicho furioso foi fazendo.
Lembro as minhas viagens de bicicleta para a escola que ficava a sete quilómetros de distância e de alguns trambolhões que também dei. Chegada a casa, após uma manhã de escola, a primeira coisa a fazer: tirar os sapatos e andar descalça. Daí, de vez em quando a minha mãe ter de chamar o feiticeiro para me amainar a dor da ferroada do lacrau … de seguida, meninos às costas, pego no pilão e, ao lado das mães desses meninos, toca a pilar o milho para a confeção da chima (farinha de milho ou de arroz cozida em água, para acompanhar o refogado de folhas de mandioca ou de peixe seco) deliciosa que eu e o meu irmão fazíamos questão de comer sentados na esteira e com a mão.
Muitas mais estórias compõem o imenso e rico percurso deste meu palmilhar por aí. Valerá a pena continuar a aparecer por aqui?
Autora: Fernanda Silva